
A cana-de-açúcar destaca-se como uma planta com elevado potencial para transformar energia solar em energia química, representada principalmente pela sacarose. O elevado teor deste nutriente na planta madura (31% da matéria seca), justamente numa época do ano em que as pastagens são escassas e deficientes em proteína e energia, faz da cana uma importante fonte energética para bovinos durante o período seco. Isto é um fato importante em pesquisas realizadas em vários países tropicais.
Tem ainda as seguintes vantagens:
– alta produção de matéria seca (até 120 t/ha);
– é perene (renovação talvez necessária a partir do quarto ano);
– mantém valor nutritivo por períodos longos após a maturação;
– é bem aceita e consumida pelos animais (cerca de 6% do peso vivo de matéria fresca/dia);
– é de relativo baixo custo de produção.
A cana é, porém, pobre em proteína bruta (2% a 3% na matéria seca). Por isso, faz-se necessária a incorporação de uma fonte protéica à massa picada, no momento de fornecimento aos animais. O mais comum é a adição de uréia associada a uma fonte de enxofre e, dependendo dos ganhos esperados, de uma fonte de proteína natural.
COMO PLANTAR
A área a ser plantada é calculada em função do peso e número de animais a serem suplementados, do número de dias de suplementação, da produção de massa esperada por hectare e da quantidade diária a ser fornecida por animal.
Supondo-se:
– produtividade esperada de massa verde de 120 t/ha
– número de animais – 100
– período de suplementação – 150 dias
– peso médio/cabeça – 300 kg
– fornecimento diário – à vontade (6% do peso vivo/cab./dia de massa verde)
Tem-se:
100 an. x 300 kg/cab. x 0,06 x 150 dias = 270.000 kg
nº de ha plantados =
270.000
120.000
= 2,25 ha
Considerando-se uma margem de segurança de 10% tem-se: 2,25 x 1,1 = 2,5 ha aproximadamente.
Solo – Os mesmos usados para cultivos de soja ou milho são apropriados, corrigidos com calcário segundo o mesmo critério adotado para essas culturas.
O solo deve ser bem preparado com arações e gradagens, para permitir uma boa operação de plantio.
Correção do solo/adubação – A calagem, quando necessária, deve ser feita no mínimo 60 dias antes do plantio.
Plantio – O plantio é feito no início das águas (outubro/novembro) ou mais tardiamente (janeiro/março). No primeiro caso, a produção estará disponível para corte na estação seca a seguir, mas, no plantio tardio, esta só poderá ser usada no ano seguinte.
O solo já preparado e calcariado deve ser sulcado à distância de 1,20 m, com sulcos de aproximadamente 25 cm de profundidade.
Os adubos necessários para plantio são aplicados no fundo do sulco e, a seguir, também no fundo do sulco, são colocados os pedaços de colmos com três a quatro nós (um após o outro em número de dois). Alternativamente, pode-se dispor canas inteiras em número de duas, cruzadas, pés com pontas e cortá-las posteriormente com um facão, dentro do próprio sulco. Para o plantio de áreas extensas, pode-se usar máquinas que sulcam, adubam e plantam numa mesma operação e, neste caso, os colmos devem ser cortados antes. Os colmos devem ser cobertos com uma camada de terra de 5 a 10 cm. Usar sempre mudas sadias, maduras (oito a doze meses) e de variedades reconhecidamente produtivas e bem adaptadas.
Para melhor distribuição da produção ao longo do período de suplementação, recomenda-se, sempre que possível, usar uma variedade precoce (por exemplo, ‘NA 5679’) e uma variedade tardia (por exemplo, ‘CB 45-3’).
Para plantio de 1 hectare, são necessárias de oito a doze toneladas de cana, ou cerca de 0,1 hectare de viveiro para cada hectare plantado.
Adubação – Por ocasião do plantio, todo o fósforo, potássio e, eventualmente, algum nitrogênio recomendado para ser usado nesta fase, devem ser aplicados no fundo do sulco. Sugere-se, na ausência de alguma indicação técnica mais precisa, aplicar de 400 a 500 kg/ha da fórmula 05-25-20. O ideal, porém, é proceder uma adubação com base numa análise de solo, específica para cana, e assistida por um técnico da área. Cerca de 60 dias após a germinação, aplicar de 50 a 60 kg/ha de nitrogênio, em cobertura, ao longo das linhas de plantio.
Para garantir boa persistência do canavial por até quatro a cinco anos, adubações anuais com nitrogênio, fósforo e potássio são importantes. Recomenda-se usar 80 kg/ha de nitrogênio dividido em três parcelas durante o período de chuvas; 45 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de K2O, em uma única aplicação no início das chuvas em cobertura.
Retorno do esterco dos currais e das áreas de confinamentos para a cultura é altamente recomendável.
COMO USAR
A cana-de-açúcar pode ser usada como fonte forrageira para o período da seca, na alimentação de bovinos confinados ou em pastejo; neste caso, como uma forma de resolver problemas relacionados à baixa disponibilidade de matéria seca da pastagem. Em ambos, a cana deve ser picada e não triturada, para efetivamente reduzir o comprimento da fibra e melhorar o seu consumo.
Para pequenos plantéis, a colheita pode ser feita manualmente e a cana transportada em carretas ou carroças para ser picada em picadeiras estacionárias, próximas do local de fornecimento. No caso de um número maior de animais, usam-se máquinas forrageiras que cortam, picam e carregam em uma única operação.
A limitação mais séria ao uso da cana reside no seu baixo teor de proteína bruta e degradabilidade da fibra, resultando em baixo consumo. Nessas condições, o uso isolado da cana-de-açúcar não é capaz de atender nem mesmo às necessidades de mantença do animal. Entretanto, o seu uso, associado com uma fonte protéica, tal como a uréia + sulfato de amônio, pode resultar em ganhos de até 300 g/cab./dia. A mistura recomendada é de 90% de uréia e 10% de sulfato de amônio e aplicada na base de 1 kg para cada 100 kg de cana fresca picada, isto após a fase de adaptação de uma semana. Na fase de adaptação, usar apenas 0,5 kg da mistura para os mesmos 100 kg de cana picada. A mistura uréia + sulfato de amônio pode ser preparada e guardada. A aplicação da mesma sobre a cana é feita da seguinte forma:
· para cada 100 kg de massa de cana picada, já distribuída no cocho ou no campo, aplicar a mistura uréia + sulfato de amônio diluída em 3-4 litros de água, com a ajuda de um regador. Essa distribuição deve ser a mais uniforme possível;
· para ganhos na faixa de 500 g/cab./dia, há necessidade de se acrescentar à cana tratada, concentrados protéicos de origem vegetal.
Neste sentido, o uso diário de 600g por animal de farelo de arroz integral tem mostrado desempenhos satisfatórios;
· para animais em confinamento, com ganhos entre 600 e 700 g/cab./dia, há a necessidade do uso de misturas protéicas/energéticas (por exemplo, 80% de milho e 20% de farelo de soja), fornecidas na base de até 2,5 kg por animal/dia. Neste caso, atenção especial é necessária em termos de retorno econômico, visto a baixa conversão alimentar normalmente obtida quando se usa cana. Talvez esta forma deva ser usada apenas como uma estratégia para explorar a alta no preço do boi ao final da entressafra, confinando animais erados com peso vivo médio acima de 400 kg.